Pós destinação

The Turtle Shell
2 min readJun 8, 2019

As luzes da sirene da ambulância eram tudo o que eu conseguia ouvir, enquanto algum desconhecido tentava, em vão, tirar o meu corpo caído do asfalto molhado pelas chuvas torrenciais de março que alagavam as estreitas ruas da cidade. Adormeci em meio a confusão de buzinas e atendentes de primeiro socorros correndo em minha direção.

— Até que enfim você chegou.

Entreabri os olhos com cautela, sem saber onde eu estava. Não havia ninguém além de mim. Esperei a voz se manifestar novamente.

— Fiz com que a sua morte fosse menos trágica do que havia me pedido. Acertei na escolha?

Olhei para os dois lados com dificuldade, não consegui enxergar nada, nem descobrir de onde viera a voz masculina que me parecia estranhamente familiar.

— Quem é você?!

— Você estava falando comigo há alguns minutos atrás antes de pegar no volante e causar um tremendo alvoroço na avenida.

— Eu estava em casa antes disso. Eu estava em casa sozinho.

— Você estava comigo.

— Eu estou morto? não consigo ver nada.

— E nem verá nada mais.

— Quem é você? Você é Deus?

— Eu estava com você na hora do acidente.

— Então me responda. Você é Deus?

— Não.

— Então como você estava comigo quando sofri o acidente? Não compreendo.

— Eu estava lá com você quando disse que não aguentava mais viver e pegou a estrada embriagado. Eu estava lá, o tempo todo, não lembra?

— Você não estava lá. Não estava. Eu estava só.

— Fale o seu nome.

— Por que quer que eu diga o meu nome?

— Porque este é quem eu sou.

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